Olá! Nessa página você vai encontrar fotos, vídeos e relatos da produção do workbook Glifo por glifo. O livro é um produto do meu TCC em Design e, se for do seu interesse, você pode fazer download do trabalho na íntegra:
Introdução
Glifo por glifo - Escrever e pensar sobre Design é o meu trabalho de conclusão de curso (TCC) pela graduação em Design na Esdi/Uerj.
O projeto foi construído em duas partes: na primeira, explorei a relação entre Design & Escrita através de uma extensa revisão bibliográfica das áreas de prática crítica do design, aprendizado, escrita e cognição, bem como em entrevistas síncronas com profissionais de design buscando compreender mais profundamente o tema.
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Na segunda parte, foi produzido um livreto de exercícios (workbook) de escrita para designers, com 32 páginas, impresso em risografia nas cores sea foam, rosa fluor e flat gold. O conteúdo do livro une teoria, reflexões e nove exercícios práticos de elaboração do pensamento, pesquisa, escrita e edição para incentivar a prática livre da escrita como parte do processo projetual e auxiliar designers na tarefa de se comunicar verbalmente a respeito de seus próprios projetos e objetivos profissionais.
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Motivação
Essas são algumas das mensagens que já recebi sobre design, pensamento crítico e escrita. Há muitos designers por aí prontos para colocar suas ideias no papel e que não sabem por onde começar, e esse projeto é dedicado a eles :-)
Processo Criativo
A etapa de pesquisa bibliográfica e entrevistas foi a mais longa, e aconteceu entre abril e agosto de 2024.
As principais referências teóricas foram Janet Emig, Nathalia Ilyn e Pat Francis. Você pode ler essa parte com mais detalhes baixando o pdf do TCC na íntegra, no topo desta página, ou na edição 71 da newsletter makers gonna make [8 minutos de leitura], onde compartilhei os principais aprendizados da pesquisa.
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Sobre as entrevistas, foram 15 conversas síncronas via Zoom. Elas foram transcritas e estão disponíveis para consulta aqui. A metodologia escolhida para as entrevistas foi a de Steve Portigal, detalhada no livro Interviewing Users: How To Uncover Compelling Insights (2013). Na edição 72 da makers gonna make eu contei um pouco sobre o processo de entrevistas [7 minutos de leitura].
As motivações para não escrever sobre design mais citadas foram insegurança, medo de errar, falta de prática, falta de incentivo por parte do mercado, falta de tempo e bloqueio criativo.
Só que… enquanto designers que não costumam escrever tem medo de não saber o suficiente ou de escrever algo considerado incorreto, designers com uma prática de escrita estabelecida não sentem o contrário.
Eles não sentem que tudo o que escrevem está correto, mas que estão aprendendo e explorando teses com o processo de escrita em si. O antídoto ao sentimento de insegurança não precisa ser a confiança plena, mas um deslocamento do objetivo: não acertar, mas aprender.
O conteúdo do workbook, que inclui teoria e exercícios, foi desenvolvido ao longo do mês de setembro de 2024. Tomei uma atenção especial para que os exercícios fossem convidativos e agradáveis, e não apenas tecnicamente embasados; já que a partir dos dados coletados, foi possível identificar que os fatores que mais afastam designers da prática da escrita são a falta de incentivo e a falta de confiança.
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Além das entrevistas, analisei alguns livros semelhantes ao meu projeto: (a) compostos por exercícios práticos (b) para designers ou outros profissionais criativos. Os títulos escolhidos foram Aprender de coração (2023), de Corita Kent; Exercices d'observation (2022), de Nicolas Nova; e Graphic Design Play Book (2019), de Aurélien Farina e Sophie Cure. Também considerei a minha experiência pessoal com a escrita e minha formação em jornalismo.
Qualquer guia de escrita é atravessado pela subjetividade do autor. Como escrever bem, publicado em 1976 por William Zinsser, é considerado um dos melhores e mais completos guias sobre escrita de não ficção. Apesar da linguagem objetiva, podemos identificar diversos pontos no livro em que a vida e o contexto pessoal de Zinsser aparecem. Em duas passagens ele desencoraja o uso de palavras derivadas do latim, considerando-as “mais complicadas” do que as de origem anglo-saxônica; isso acontece porque Zinsser escreve em inglês, e esse elemento de sua biografia molda sua percepção sobre a língua de forma diferente de um falante nativo de português, por exemplo.
É mais prudente e transparente admitir que minha subjetividade e meus valores em relação à escrita, ao Design e à educação serão incorporados ao meu workbook do que tentar ignorá-los ;)
Ao longo do mês de novembro de 2024, trabalhei no projeto gráfico do livro. De que forma eu poderia aproximar a aparência do workbook Glifo por glifo do seu propósito, sem subestimar a mensagem verbal?
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Como uma designer que escreve, eu frequentemente penso na forma das palavras que escolho. É comum que eu já escreva pensando em como as frases vão estar posicionadas, em qual tipo de papel serão impressas, quais cores e técnicas de impressão vou usar. Mas sempre me lembro de uma anedota que um professor me contou em um curso de escrita criativa:
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A extinta editora Cosac Naify, conhecida por seus projetos gráficos caprichados, trabalhou em uma edição do livro A Paixão, de Almeida Faria. O livro é narrado em três partes, manhã, tarde e noite, que foram impressas em papéis de cores diferentes: cinza suave e quente para a manhã, branco para a tarde e um cinza mais profundo para a noite. Diz o boato que, ao ver o livro pronto, o autor teria questionado:
“E todo o trabalho que eu tive para clarear as palavras da manhã e escurecer as palavras da noite?”
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Eu nutro uma paixão por processos de impressão manuais. Pode parecer uma preferência anacrônica ou puramente estilística; mas há argumentos intelectuais em seu favor. Em A Lasting Impression: The Value of Connecting with Letterpress, David Meaney oferece um panorama sobre a contribuição dos processos manuais para o ofício do designer:
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“Embora produzir o próprio trabalho manualmente possa ser mais demorado, permite ao designer criar uma conexão mais valiosa com o que está criando e desfrutar do processo. (...) Comparado ao ritmo acelerado do design digital, o trabalho de tipografia ‘lenta’ permite ao designer tomar decisões mais deliberadas.”
David fala especificamente da tipografia tradicional, mas essa não era uma opção tecnicamente viável pra mim. Então em outubro surgiu a oportunidade de participar da oficina “Cartazes tipográficos risográficos analógicos gigantes”, na Risotrip, ministrada por Daniel Bicho e Peu Lima. A proposta era montar uma matriz, feita a partir de técnicas analógicas como letraset, carimbos, caligrafia e recortes, e depois imprimir a peça em risografia.
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Durante a oficina, ao trabalhar com esses materiais e técnicas, me senti verdadeiramente conectada ao fazer do design do meu cartaz. Isso me inspirou a fazer o mesmo no projeto gráfico do workbook. Trabalhei com composições em letraset, carimbos, caligrafia e colagem, tudo manualmente; depois escaneei as peças e juntei a um layout diagramado de forma digital no Adobe Illustrator.
O Design enquanto disciplina frequentemente se apresenta como uma dicotomia entre o projetar e o fazer: o designer projeta, e as máquinas ou os trabalhadores não-intelectuais realizam. Essa separação me incomoda, não só pelo seu caráter elitista, mas também pela desvalorização do fazer manual.
Com o esqueleto do layout pronto, passei o projeto para minha colega e amiga Maria Mercante, responsável por ilustrar o livreto. Ela desenvolveu quatro ilustrações grandes, de página inteira, e cinco ilustrações menores e mais simples, para aplicar em páginas com texto. A artista optou por desenvolver as imagens a partir do tema “cavaleiro medieval”, remetendo à ideia de que escrever é uma quest, uma desafiadora missão a ser cumprida pelo designer. Ela misturou técnicas digitais e analógicas para trazer diferentes texturas e reforçar o caráter analógico que outros elementos do projetos gráfico (títulos e frases em destaque) trazem.
Financiamento Coletivo
A produção de 100 exemplares de Glifo por glifo custou pouco mais de 6 mil reais, e esse valor foi arrecadado em 11 dias (18 a 28 de novembro de 2024) de campanha no Catarse.
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Eu decidi fazer um financiamento na modalidade flexível, na qual o proprietário da campanha se compromete em arcar com a parcela do orçamento que não for atingida durante o período de arrecadação, para garantir que as recompensas da campanha - nesse caso, os livros - sejam entregues àqueles que contribuíram. É possível criar uma espécie de pré-venda através de uma campanha como essa, oferecendo os exemplares finais como recompensa para apoiadores a partir de uma determinada faixa monetária - no caso do workbook, um exemplar físico podia ser adquirido a partir de 68 reais.
Em relação à logística, plataformas de financiamento coletivo coletam e organizam dados dos apoiadores para o envio de recompensas, além de arrecadar e repassar o valor do financiamento. Não precisei me preocupar em oferecer diferentes formas de pagamento, como crédito ou débito; e nem em coletar os endereços individualmente.
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Você pode encontrar mais detalhes, incluindo um calendário completo das ações de divulgação empregadas durante a campanha, no TCC na íntegra. O download está disponível no topo da página.
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​Muitas ideias deixam de ir ao mundo devido a falta de orçamento. Nesse sentido, me senti muito honrada de ter conduzido um processo bem-sucedido de financiamento coletivo. Acho que isso demonstra o potencial da modalidade para financiar iniciativas criativas e relacionadas à educação, além da importância de um orçamento bem definido, transparente e realista para a execução de projetos de design.
A meta de R$ 6.150 cobre:
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Impressão de 100 exemplares + 100 prints: R$ 2.200
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Envio para todo o Brasil e materiais de embalagem: R$ 1.143 (incluindo envelopes, etiquetas, papel protetor e custo de envio)
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Mão de obra - Ilustração: R$ 1.000
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Mão de obra - Costura e montagem manual: R$ 1.000
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Taxas da plataforma: R$ 800 (13% do valor total arrecadado)
Com esse valor, alcançamos uma produção completa e justa para todos os envolvidos.
Montagem e Pós-produção
Entre o final de novembro e a metade de dezembro, foi o momento de montar cada workbook. A montagem completa inclui:
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Corte
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Dobra
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Costura
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Refile
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Arremate
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Prensagem
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Além da montagem, decidi fazer fotos do livro para incluir no meu portfólio. Usei um mini estúdio fotográfico portátil, também conhecido como caixa de luz; e uma câmera profissional (ambos emprestados!). Também utilizei alguns objetos para compor cenas, como cadernos, canetas, fitas, grampos, etc.​
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Você pode conferir o resultado das fotos na página do projeto.